HIPOFAGIN É FODA!
Segunda-feira. O rádio-relógio despertou com Vivaldi. Só acordava com música clássica. Ajudava à controlar a ansiedade. Era 7:00 hs. O rádio-relógio estava do seu lado da cama pra não acordar a Sueli, sua mulher. Ela fica muito mal humorada se for acordada tão cedo. Pra falar a verdade, ultimamente, ela anda mal humorada o tempo todo.
- Também, não pára de tomar esses merdas. Pensou
Levantou e tomou uma ducha. Fria. O dia ia ser cheio. Tinha que pegar o Francês no hotel às 8:00 hs. E o cara não atrasava nunca. Era metódico.
- Bela merda! Pensou Qual o Francês que não é metódico e chato?!
Vestiu-se, passou no quarto das crianças e beijou os seus filhos. Voltou para o seu quarto. Esqueceu de tomar os florais. Estava tomando seis. Tomou, e olhou a bunda branca da Sueli descoberta. Pensou em dar uma, mas não dava tempo e, à acordasse às 7 da matina, ela arrancava o seu pau nos dentes.
- Melhor não. Pensou
Desceu na garagem. Sua moto estava lá. Uma Kawasaki 360, importada. Ao lado, os carros da família: um Honda, da Sueli e a sua BMW. Colocou o seu capacete preto, montou na danada e saiu do seu prédio, em Higienópolis. O hotel era na Luiz Carlos Berrini. Subiu a Angélica e pegou a Rebouças. Já era 7:26 hs, ia chegar na marca do pênalti. Tinha que pegar o gringo, ir para a aula de yôga, almoçar, pegar as crianças na escola e, ainda, tinha a porra de “encontro de casais”
- Só me faltava essa! Falou
A terapia de casal não estava ajudando muito. O casamento estava fazendo água a algum tempo. O pior, é que ela veio com uma maldita idéia de fazer “Encontro de casais com Cristo”. Desde que começou a trabalhar com esse “pool” de empresários, há cinco anos, sua situação financeira tinha melhorado muito. Mas o casamento degringolou.
- A Sueli tem é que parar de tomar esses hipofagins. Isso que ta deixando ela louca. Mania de achar que ta gorda!
Desceu a Rebouças e pegou a Marginal Pinheiro. O dia estava ensolarado e ele estava todo de preto. De moto, só andava assim. De preto. Era supersticioso. Sua mulher dizia que ele era cheio de manias. Ultimamente, com o volume de trabalho, seu estresse vinha aumentando. Sentia suores à noite, taquicardia. Um amigo do tênis disse que poderia ser síndrome do pânico.
Os seus cliente disseram que o Francês estava atrapalhando os negócios deles no Mato Grosso. Eles investiram muito dinheiro em plantações de soja. Transgênica. O Francês, era menbro do Greenpeace, estava embolando o meio de campo. Pegou a alça da ponte dos bandeirantes. Já era 7:49 hs. Tinha que acelerar ou chegaria atrasado. O cara era metódico! Lembrou que tinha que ligar pro cara da franquia. Vinha pesquisando algumas. Estava pensando em pegar suas economias e mudar de ramo. Pensou no boticário, amor aos pedaços. Mas estava de olho mesmo era uma do mac domalds. O investimento era alto, uns 500 mil, fora o prédio, mas o retorno era certo. Se pegasse as economias e vendesse a casa em Ubatuba, já dava. Pela primeira vez no dia, deu um sorriso. Entrou na Berrini. O hotel era o Mofarrej. Era quase lá na ponta. Acelerou.
- É isso aí. Monto um mac donalds e só fico coçando o saco e dando esporro o dia todo! Riu muito.
Avistou o hotel. O carro do gringo já estava saindo.
- Em cima da hora! Mais um pouco ia perder a porra do Francês! Pensou.
Acelerou e conseguiu emparelhar ao lado do passageiro. O Francês estava sentado ao lado do motorista – um negão alto e de ray-ban espelhado. Quando estava ao lado do carro as únicas palavras que conhecia em francês:
- Bon jour, Pierre!
Falando isso sacou uma Luguer 9 mm com cabo de madre perola. Seu xodó. Só trabalhava com ela. Nunca o tinha deixado na mão. O Francês, sorrindo, olhou para ver quem o chamava. Ele apertou o gatilho duas vezes. Um dos tiros pegou no pescoço, o outro, na testa. Nunca dava três ou cinco. Sempre parava nos pares. Ou dava dois ou quatro. Senão, dava zica. Como só falaram pra pegar o Francês, resolveu deixar o negão em paz. Acelerou e saiu costurando em meio aos carros. Estava com pressa. Ainda tinha yôga, depois almoçar, pegar as crianças e... encontro de casais com cristo. Enquanto guardava a pistola no blusão preto, pensou.
- O problema da Sueli é o hipofagin! Por que ela não usa florais??!! Resmungou
(JCF)
Dá-lhe, Tarantino!
ResponderExcluirÉ muito bom escrever assassinos. Diz aí, Dri. Beijo
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